Translate

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA AMERICA LATINA



1-Formação profissional e igreja no Chile. O caso das primeiras escolas.
  1. Contexto sócio político
Na década de 20, Arturo Alessandri representa a camada média e encabeça um movimento reformista e consegue aprovar a proposta de um código de trabalho. Esta está marcada por um período de crise institucional e uma onda de protestos e greves. Nesse contexto as classes dominantes, através do estado se vê compelida a acolher as reivindicações da classe operária e outros setores populares. A burguesia chilena a institucionalizar essas reivindicações criando uma legislação.
1.2 A primeira escola chilena (De origem estatal)
Funda-se, nesse contexto a primeira escola de Serviço Social no Chile em 1925, tendo como seu fundante Alejandro Del Río (que era médico), que foi a Bélgica para conhecer os outros centros de formação acadêmica. Ele obteve uma resposta parcial ao criar uma escola para formar profissionais destinados a complementar o trabalho médico. As principais característica dessa escola foram: sua origem que está próxima da esfera das necessidades de expansão estatal, e pela imposição das demandas das classes operárias.
1.3 A segunda escola chilena
A Igreja não estará ausente do processo constitutivo do Serviço Social, por muitos anos ela foi a promotora de obras de caridade inspirada nos preceitos religiosos operando um apostolado que sustentava inúmeras “obras de misericórdia”. Só em 1929 a igreja promove a organização de sua primeira escola de Serviço Social, a escola Elvira Matte de Cruchaga, fundada por Miguel Cruchaga. Sua origem tem diversas motivações, entre elas cito: O interesse da igreja em criar um centro católico ortodoxo para a formação de agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade chilena, e uma estratégia de conscientização da influência católica na criação de escolas de Serviço Social. Com o objetivo de recuperar o seu papel de condutor moral da sociedade
1.4 Os efeitos da escola Elvira Matte Cruchaga no Chile e no continente Latino Americano
A Igreja também se viu impelida a situar-se no interior da questão social emergente com a modernização capitalista que mercantiliza a força de trabalho, redefine a família, promove concentrações urbanas, origina novas doenças etc. Esta nova escola era uma resposta de forma complementar e não antagônica, à criação da escola de Del Rio, uma vez que essa tinha a pretensão de promover a assistência médica. Já a escola Elvira Matte de Cruchaga cobriu um amplo espaço da questão social. Destaca-se que na sua atuação a inovação tinha maior ênfase. Outro espaço coberto foi a ênfase da necessidade de uma aproximação à ciência e a técnica. A escola tinha, também, uma intenção de compreensão mais global dos vetores que determinavam as desigualdades de classes na sociedade chilena inserindo a assistência social nesta problemática. Esta possibilidade diversificada de ação profissional lhe conferiu uma ampla margem de atuação em comparação com a escola de Del Río que tinha a sua condição real nas mãos dos médicos. Outro aspecto dessa diferenciação é o caráter confessional da segunda em relação a primeira, vinculado diretamente ao apostolado da igreja. Sob este foco a escola Elvira Matte de Cruchaga é um projeto destinado a organização dos leigos, com uma diretriz de formação profissional de acordo com os ditames da igreja. A igreja deu ao Serviço Social uma base orgânica continental e se manifesta em duas vertentes principais. Formação de escolas estatais cuja a formação acadêmica de profissionais estava sob a direta gestão da igreja. Este papel difusor desempenhado pela igreja possibilitou-lhe o fortalecimento de uma tendência de vasto alcance latino americano.
1.5 A formação da visitadora social na escola Elvira Matte de Cruchaga
Com uma seleção rigorosa que exigia uma estrita escolha – como por exemplo ser maior de 21 anos , bons antecedentes e boa saúde- em face das poucas vagas a escola, sob orientação de um espírito cristão. A formação tinha ênfase aos cursos voltados a saúde devido aos problemas das péssimas condições de salubridade e também a influência europeia que ligava o Serviço Social a enfermagem. Essa tendência se repetiu nas escolas do Peru e de São Paulo. Ao lado do cuidado com a saúde houve um crescimento na importância do Serviço Social nas empresas. Com o passar dos anos houve uma diversificação nos campos de interesse tais como: as problemáticas operária rural e rural familiar, e da saúde e assuntos dos profissionais do Serviço Social.
Alguns anos passados foram organizados as “semanas de estudo” que tinha os seus programas elaborados em sugestões das visitadoras onde elas compartilhavam experiências de trabalho e traziam novas propostas de métodos de atuação. Os conferencionistas que palestravam nestas semanas eram pessoas que ocupavam relevantes cargos nas instituições que demandavam o trabalho das visitantes.
1.6 A influência internacional da escola de Serviço Social Elvira Matte de Cruchaga
A escola católica chilena nasceu filiada a União Católica Internacional de Serviço Social, a UCISS que elegeu a escola para a tarefa de fomentar o Serviço Social na América Latina. A primeira atuação da difusão foi a criação no Uruguai em 1937 por estimulo da escola chilena com importante ajuda de Rebeca Izquierdo que foi diretora da escola chilena, anos depois em Buenos Aires, Izquierdo, que já havia ajudado na criação da escola do Uruguai promove a criação da escola na Argentina e em 1940 organiza-se na capital argentina a escola católica de Serviço Social. Na Colômbia a formação da escola católica também obteve colaboração de Elvira Matte de Cruchaga. Na Venezuela a escola foi fundada por sugestões da escola chilena. Em Cuba, apenas surgiu anos depois, do entusiasmo de um grupo de pessoas com o dinamismo da liderança de Elvira Matte de Cruchaga.
Além de promover a fundação de diversas escolas no continente, a escola chilena desenvolveu importantes atividades (conferências, publicações, congressos). Foi a instituição pioneira que serviu de modelo as outras escolas de formação. Foi, também, pioneiro nas ciências sociais no pais andino. Não se trata de um paradigma para a profissão, mas com a atuação na história dá para perceber componentes atuais pra área.
2-Formação da escola Peruana
O país vivia na década de 20 sob a ditadura de Augusto B. Leguía. Este se subordinou ao imperialismo norte americano, do qual obtinha recursos para sua administração. Sob esta aliança floresceu no Peru uma burguesia comercial fundada no crescimento das exportações para os EUA. Nesta década houve também uma organização da estrutura de classes e a emergência de setores populares na vida política. Com a crise internacional a economia peruana foi afetada. O percentual de desempregados aumentou ficou deteriorado, devido a crise. Houve agressivo movimento popular. A classe dominante foi aos quartéis e a solução para os impasses foi o Golpe militar de Luis M. Sanches Cerro que recebeu apoio de diversos setores populares. Sanches Cerro era ao mesmo tempo uma “face suave” e uma autoridade repressiva e intolerante. Em 1931 são convocadas eleições presidenciais e uma Assembleia Constituinte. Vários levantes militares afasta Sanches e instaura-se uma junta nacional de Governo que faz uma política econômica que favorece aos latifundiários aos grupos agro exploradores.
Em 1931 realizam-se as eleições e Sanches Cerro com uma campanha apoiada pela união revolucionária para ( Aliança Popular Revolucionária Americana), e vence. Com isso a instabilidade se generaliza e ocorre protestos e manifestações por toda a parte até que em abril de 1933 Sanches é assassinado. A Assembleia Constituinte entrega o poder ao general Oscar R. Benavides. Para aliviar a tensão que se passava no país o general propõem um governo de paz e trégua para o principal grupo opositor (APRA), supondo que estava em oposição Benavides convocou a eleição e Luis Antonio Equigurem com apoio do APRA, vence, mas houve anulação do resultado e Benavides proclamou-se presidente. Nesse mandato reaparelhou-se o exército e a polícia nomeou um gabinete militar. Benevides entendeu que a repressão não era mais viável e compreendeu que eram necessárias iniciativas de política social. Para poder controlar o povo, realizou várias medidas nas várias áreas que beneficiou principalmente a Escola de Serviço Social do Peru. Esse clima agitado é que explica a criação da Escola de Serviço Social do Peru.
2.2 - Estado, classes e a formação da escola de serviço social do Peru.
A Escola de Serviço Social do Peru (ESSP), criada em 1937 vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previdência Social para contribuir com a pessoal deste Ministério e outras instituições que estavam surgindo em decorrência da medida do governo Benavides. Porém antes dela, em 1931 o Instituto da Criança criou a Escola de visitadores Sociais de higiene infantil e Enfermeiras de Puericultura que durou pouco mais de um de ano.
A ESSP reuniu três projetos diferentes: o de Christine de Hemptinne (as requisições da igreja e de sua ação social no peru e no continente); o de Dr. Edgardo Rebagliati (demanda de pessoal apropriado para desempenhar as suas funções estatais); e do Médico Wanceslao Molina (formação de assistentes sociais que pretendia promover saúde por via da educação). Estes projetos deram respaldo para que Francisca Benavides (esposa do presidente) apoiasse a criação da Escola. A direção da escola foi entregue a USSIS que indicou a Louisse Joerissen a experiente diretora da escola chilena. A presença de Francisca Benavides acelerou o processo de cristalização do projeto. Ela por ser católica fervorosa fez a relação entre Estado e a Igreja. As funções foram assim definidas: O Estado ficava com a parte de criação de leis e a igreja com a parte acadêmica. A Igreja tinha larga experiência na formação de outras escolas na América Latina. A ESSP tinha uma política estatal de controle sobre o movimento popular. Nos primeiros anos a profissão era influenciada pela medicina para enfrentar as deploráveis condições de salubridade. A equipe da escola eram em sua maioria profissionais de reconhecido prestigio intelectual o que estimulou os estudantes em sua preparação. Apesar de curta duração dos cursos os resultados erma excelentes, pois os estudantes tinham uma ótima formação de base. A escola tinha uma perspectiva de educar o povo aproximando-o da religião e apoiar o Estado impedindo que o povo criasse uma consciência de diferença de classes, o que era ameaçador tanto para o Estado quanto para a religião. O serviço social de inspiração católica favorecia a restituição da imagem social das classes dominantes. O assistente social como uma vocação e não uma profissão atendia os interesses do estado que pagava salários baixos aos vocacionados que faziam caridade.
A Igreja sempre esteve do lado do poder e o Estado por sua vez se declarava católico e isso ajuda na compreensão do interesse da igreja nos movimentos políticos que questionavam a sua atuação e a acusavam de apoiar os regimes oligárquicos.
Referência:
CASTRO, Manuel Manrique.História do Serviço Social na América Latina. São Paulo: Cortez, 1984. p. 172.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

OLHAR SOCIAL EM CANOA QUEBRADA


Problematização:
            A cultura do turismo reproduz os determinantes sociais dos trabalhadores: Há evidencias que sim!
Justificativa
            Na música vida de gado do cantor Zé Ramalho, logo em sua primeira estrofe, tem sua essência o conceito de alienação expressa quando diz que a massa (povo) dão mais do que recebe. No restante da música a temática permanece inclusive no refrão que compara o povo   com  gado marcado, porém feliz. Essa reflexão nos mostra como já é cultural ser alienado no Brasil e ter como normal a exploração que se faz do trabalho dos mais humildes. Face a essa cristalização da ideologia de dominação e exploração da mão de obra, definimos que em nosso trabalho de campo pesquisaremos uma localidade que tem uma ideologia de cultura turística construída, através da exposição midiática, que se faz para atrair visitantes de todas as partes do mundo. Com a colaboração teórica de Dias usaremos o conceito de estranhamento social na qual fixa que é essencial identificar aquilo que não esta evidente dentro do contexto social dos comportamentos humanos, ou com expõe Dias “ Dentro dessa perspectiva, um dos principais objetivos está em identificar aquilo que não esta evidente, não parece claro, e quais os padrões e as influências do comportamento social” (Dias, 2010, 07). Dentro dessa perspectiva iremos olhar as interações sócias, mais especificamente as do trabalhadores da indústria do turismo, e perceber como essa alienação se dá na sociedade estudada.
            Tendo como base teórica o texto de Damatta o grupo propôs fazer uma pesquisa de campo na praia de Canoa Quebrada Ceará, para  ter uma visão crítica da realidade dos trabalhadores da indústria do turismo identificando se existe reificação dessa cultura de turismo nessa localidade. Ou como o próprio Damatta traz em seu texto:
 No caso do homem, a cada sociedade corresponde uma tradição cultural que se assenta no tempo e se projeta no espaço.” Daí o seguinte postulado básico: dado o fato de que a cultura pode ser reificada no tempo e no espaço (através de sua projeção e materialização e objetos), ela pode sobreviver à sociedade que a atualiza no conjunto de praticas concretas  visíveis. Assim pode haver cultura sem sociedade embora não pode existir sociedade se cultura. (DAMATTA, Roberto. 1987. pag 50)
             Como Damatta expôs em  seu texto (1987, 50) que a cultura quando existente ela esta reificada na sociedade e os indivíduos fazem suas escolhas de vida baseados na cultura vigente, dentro dessa pesquisa pretendemos ainda conhecer se na cultura do turismo na praia de Canoa Quebrada as escolhas são feitas influenciados por essa cultura, tendo por base teórica a afirmação de Damatta:
Assim..., na discussão da realidade humana, o conceito de sociedade deve ser sempre complementado pela sua outra face, a noção de cultura que remete ao texto e aos valore que dão sentido ao sistema concreto das ações sociais visíveis e percebíveis pelo pesquisador. A noção de cultura permite descobrir uma serie de dimensões internas ligadas ao modo de como cada papel é vivenciado, além de identificar as escolhas que revelam como esse grupo difere daquele na sua atualização como uma coletividade viva. (DAMATTA, Roberto. 1987. pag . 56)
            E ainda, trabalharemos com a intenção de  saber se os trabalhadores da indústria do turismo estão alienados em relação ao que o turismo pode trazer de benefícios aos moradores daquela comunidade. Para tal, lançaremos mão do pensamento de  Karl Marx  respeito da alienação no qual expõe que a alienação do trabalho é gerada quando o  ser humano é explorado e o lucro que advêm dessa exploração fica não dos exploradores e rompe o homem de si mesmo. Ou seja, veremos como a cultura indústrial do turismo, enquanto gerador de “oportunidades” alienia o trabalhador.   
            Dentro de nossas descobertas, com a pesquisa feita, mostraremos que a questão da cultura pode direcionar as decisões humanas e ainda identificar possíveis problemas que o turismo enquanto ideologia de cultura (mesmo que construída) pode alienar os trabalhadores em relação ao tipo de exploração que essa indústria do turismo pode fazer com eles, deste modo observaremos a história de vida dos trabalhadores e suas constituições culturais alienativas, enquanto operários da indústria ideológica do turismo em Canoa Quebrada. Se tais fatos se evidenciarem nas respostas chamaremos a atenção dos leitores  que o turismo da forma que o turismo é enaltecido, naquela localidade, nos anúncios dos meios de comunicação em massa tem também seu lado maléfico que possivelmente seja diluído com a indústria cultural que se constrói para exploração desse setor econômico.
Objetivo geral:

             Dentro da cultura do turismo e do trabalho que ele gera identificar quais são os benefícios e\ou malefícios que a indústria do turismo proporciona aos nativos da praia de Canoa Quebrada bairro de Aracati-Ceará.
Objetivos específicos:

            Verifica se a cultura do turismo esta reificada dentro da praia de Canoa Quebrada. Analisar se a cultura do turismo influência nas escolhas dos moradores de Canoa Quebrada. Identificar se o trabalhador do turismo em Canoa Quebrada esta alienado em relação a sua força de trabalho.

Metodologia:
            O trabalho foi feito através de entrevista usando um questionário com 15 perguntas relacionadas a atividade profissional ligada ao turismo e a saúde do trabalhador e as condições de vida deste. Utilizamos de recursos fotográficos e gravação de vídeo. Foi realizado no dia 03/10/2012 às 9:30hrs até às 13:00hrs.

Resultados:
            Entrevistamos vinte pessoas que trabalham no setor do turismo na comunidade entre eles vendedores ambulantes, bugreiros e  guia turístico. Em sua maioria 17 não teve críticas a fazer  ao turismo na cidade, pelo contrário a maioria das respostas eram que o turismo era ótimo para cidade para eles. dezenove disse não se sentir explorado em seu trabalho por não existir a figura do patrão e o conceito de exploração desses  dezenove era justamente a figura do patrão exigindo mais esforço do empregado. Apenas 03 vendedores tiveram alguma crítica ao turismo: uma disse que o turismo fazia com que os produtos encarecem os preços de produtos nos supermercados pois a venda de tais tinha um preço que era para turista e os nativos acabavam pagando esse alto preço. Outro ambulante se sentiu explorado em seu trabalho apesar de não ter a figura do patrão, mas por ter que andar o dia todo no sol.  Por ultimo uma vendedora  disse existir um certo controle para poder vender e não tem a liberdade de vender todos artesanatos que produz.

            A maioria os entrevistados tem familiares que trabalham no turismo. Tal fato se evidencia pois na explicação dos entrevistados só há poucas formas de ingresso no mercado de trabalho naquela localidade e a forma mais expressiva é a da indústria do turismo.
            Outro dado que analisamos em nossas pesquisa foi o da saúde do trabalhador e a o maior percentual de entrevistados disse nunca ter sofrido acidente durante o trabalha nem ter doença decorrente dele. Os equipamentos ou roupas de proteção dos trabalhadores em sua maioria se limitava a creme protetor solar, boné ou óculos de sol. Só existe um posto de saúde na praia. Mas o interessante é que a todos responderam que quando precisam de médico não encontram no posto de saúde e têm que se deslocar até a cidade de Aracati-Ceará. Ainda nesse tópico.
            Na área do saneamento básico todos tem água encanada, usam fossa como sistema de descarga de dejetos. A metade tem a rua calçada e sobre a coleta de lixo só duas  pessoas disse que não há coleta.

            A nossa pesquisa permitiu identificar que a tradição cultural de Canoa quebrada, que o turismo, esta bem clara no tempo (há anos) e no espaço(em toda a cidade, no comercio, nos serviços, nos investimentos, nas propagandas da cidade, etc.). Ela esta reificada (coisificada), pois os objetos a venda conotam o turismo (lembrança da cidade, camisas etc.). Também se coisifica porque é uma forma de vida dos trabalhadores do turismo, uma vez que, em sua maioria, passam a maior parte do dia, e isso todos os dias, vendendo ou atendendo aos turistas. A maioria deles já incorporaram esse modo de vida e não querem ter outra profissão, apesar de ser uma cultura “construída” (essa do turismo em Canoa Quebrada) o bairro   é uma sociedade que existe com essa cultura (mas essa cultura do turismo existe em outras sociedades).  Tal sociedade, em questão, tem valores que dão sentido ao seu jeito de ser e na noção de cultura que encontramos como os indivíduos fazem suas escolhas e porque decidem serem desse ou de outro jeito. Ou como afirma Damatta “...Não existe, pois, coletividade humana que não se utilize de uma noção de sociedade ou de cultura para exprimir partes de sua realidade social” (Damatta 1987, 57). A pesquisa permitiu, ainda, constatar que na cultura do turismo - que na cabeça deles é ótima - encontram as razões das escolhas profissionais. Entre os 20 entrevistados, todos mostraram que o turismo foi o fator determinante para sua escolha profissional. Apesar de cada um dar  uma variante de  explicação mais especifica, como por exemplo, fonte de renda, ciclo de amizades ou ver seus pais trabalhando nisso, a grande maioria teve sua escolha norteada pela cultura do turismo. Ou seja, Culturalmente falando, o turismo em Canoa quebrada é de forte influência nas escolhas de vida dos seus trabalhadores, ou ainda, nas palavras de Damatta: “... Mas também utilizamos a moldura cultural para exprimir e englobar condutas racionalizando-as e legitimando-as”(Damatta 1987, 57). Vale notar que apenas um dos entrevistados disse que se tivesse oportunidade de estudos teria outra profissão (advogado), no entanto estava satisfeito com a que exercia como ambulante.


            Com olhar crítico verificamos que existe uma alienação com relação a exploração econômica da mão de obra, poi os entrevistados disseram em sua maioria que só se sentiria explorado se houvesse a figura do patrão. Até mesmo os que produzem algum tipo de artesanato ou produto de uso doméstico como é o caso do óleo de coco de  Fatinha que diz não haver exploração de sua produção. A alienação existe pois o trabalhador não consegue relacionar que seu trabalho dentro da indústria do turismo que gera uma renda que não fica em suas mãos, pois como se verificou a maioria vive com pouca renda de seu trabalho, trabalha durante a maior parte do dia, todos os dias. Seguindo o conceito de mais-valia  de Marx onde o trabalho gera riqueza só que esta riqueza não fica na mão do trabalhador do turismo tão pouco retorna para ele com investimentos, como por exemplo na saúde ou no saneamento básico. Na verdade existe um investimento na praia de Canoa Quebrada só que este é feito na própria indústria do turismo com construção de monumentos que enaltecem o turismo e  nas infra instrutura do comércio e isso só favorecem os grandes empresários e comerciantes do turismo. Pode notar também nos investimentos que fazem nas propagandas criando a ilusão de um lugar perfeito. Em detrimento disso sofre os setores que deveriam ter o minimo de atenção como o da saúde. Em nossa visita ao único estabelecimento de saúde da praia verificamos um prédio com um ambulatório, uma sala de dentista e duas salas de enfermaria nenhum médico de plantão e nenhuma ambulância. Esse quadro do posto de saúde demonstra que apesar de a localidade ter um estabelecimento de saúde, as instalações não são suficientes para atender toda a demanda dos moradores, muito menos as do turistas que a visitam. A ausência de profissionais de saúde é a marca do cenário de saúde pública na afamada praia turística de Canoa Quebrada, pois durante a entrevista todos, sem exceção, alegaram essa deficiência e tal fato se confirmou com nossa visita às instalações.


Conclusão:
            Como pode se observar a indústria do turismo enquanto setor econômico e cultural esta cristalizada  no modo de viver dos nativos da praia de Canoa Quebrada- Aracati/CE. Tem forte influência nas decisões profissionais dos moradores e estes em sua maioria aprovam sem críticas essa cultura. No entanto não conseguem enxergar que esse tipo de exploração econômica só tem um lado que se beneficia que é o do próprio turismo, pois falta investimento em saúde, saneamento básico. Caberia ao poder público, junto com a valorização do turismo, propor políticas públicas que atendesse as necessidades de saúde e saneamento que, pelo que foi constatado durante a pesquisa é escasso e não atende as necessidades de seus moradores.
             Retomando o que foi dito em princípio (na justificativa) a vida de gado que as pessoas levam sendo encurraladas a trabalhar no setor do turismo, na sociedade estudada, as deixa alienadas, pois apesar de não perceberem os benefícios que o turismo não traz a comunidade local, não deixam de festejar a oportunidade de serem explorados. Talvez a melhor solução a se apontar seja a mais difícil e reside em conscientizar aquela sociedade da realidade que os cerca, mas não deixa de ser uma boa orientação a se seguir.


Referencia:
DAMATTA, Roberto.Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. p. 246.
 DIASReinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Pearson , 2007.
 MARX, Karl. O capital. Coleção Os economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
RAMALHO. Zé. Vida de gado.

WebRep
Classificação geral
Este site não tem classificação
(número de votos insuficientes)