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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

OLHAR SOCIAL EM CANOA QUEBRADA


Problematização:
            A cultura do turismo reproduz os determinantes sociais dos trabalhadores: Há evidencias que sim!
Justificativa
            Na música vida de gado do cantor Zé Ramalho, logo em sua primeira estrofe, tem sua essência o conceito de alienação expressa quando diz que a massa (povo) dão mais do que recebe. No restante da música a temática permanece inclusive no refrão que compara o povo   com  gado marcado, porém feliz. Essa reflexão nos mostra como já é cultural ser alienado no Brasil e ter como normal a exploração que se faz do trabalho dos mais humildes. Face a essa cristalização da ideologia de dominação e exploração da mão de obra, definimos que em nosso trabalho de campo pesquisaremos uma localidade que tem uma ideologia de cultura turística construída, através da exposição midiática, que se faz para atrair visitantes de todas as partes do mundo. Com a colaboração teórica de Dias usaremos o conceito de estranhamento social na qual fixa que é essencial identificar aquilo que não esta evidente dentro do contexto social dos comportamentos humanos, ou com expõe Dias “ Dentro dessa perspectiva, um dos principais objetivos está em identificar aquilo que não esta evidente, não parece claro, e quais os padrões e as influências do comportamento social” (Dias, 2010, 07). Dentro dessa perspectiva iremos olhar as interações sócias, mais especificamente as do trabalhadores da indústria do turismo, e perceber como essa alienação se dá na sociedade estudada.
            Tendo como base teórica o texto de Damatta o grupo propôs fazer uma pesquisa de campo na praia de Canoa Quebrada Ceará, para  ter uma visão crítica da realidade dos trabalhadores da indústria do turismo identificando se existe reificação dessa cultura de turismo nessa localidade. Ou como o próprio Damatta traz em seu texto:
 No caso do homem, a cada sociedade corresponde uma tradição cultural que se assenta no tempo e se projeta no espaço.” Daí o seguinte postulado básico: dado o fato de que a cultura pode ser reificada no tempo e no espaço (através de sua projeção e materialização e objetos), ela pode sobreviver à sociedade que a atualiza no conjunto de praticas concretas  visíveis. Assim pode haver cultura sem sociedade embora não pode existir sociedade se cultura. (DAMATTA, Roberto. 1987. pag 50)
             Como Damatta expôs em  seu texto (1987, 50) que a cultura quando existente ela esta reificada na sociedade e os indivíduos fazem suas escolhas de vida baseados na cultura vigente, dentro dessa pesquisa pretendemos ainda conhecer se na cultura do turismo na praia de Canoa Quebrada as escolhas são feitas influenciados por essa cultura, tendo por base teórica a afirmação de Damatta:
Assim..., na discussão da realidade humana, o conceito de sociedade deve ser sempre complementado pela sua outra face, a noção de cultura que remete ao texto e aos valore que dão sentido ao sistema concreto das ações sociais visíveis e percebíveis pelo pesquisador. A noção de cultura permite descobrir uma serie de dimensões internas ligadas ao modo de como cada papel é vivenciado, além de identificar as escolhas que revelam como esse grupo difere daquele na sua atualização como uma coletividade viva. (DAMATTA, Roberto. 1987. pag . 56)
            E ainda, trabalharemos com a intenção de  saber se os trabalhadores da indústria do turismo estão alienados em relação ao que o turismo pode trazer de benefícios aos moradores daquela comunidade. Para tal, lançaremos mão do pensamento de  Karl Marx  respeito da alienação no qual expõe que a alienação do trabalho é gerada quando o  ser humano é explorado e o lucro que advêm dessa exploração fica não dos exploradores e rompe o homem de si mesmo. Ou seja, veremos como a cultura indústrial do turismo, enquanto gerador de “oportunidades” alienia o trabalhador.   
            Dentro de nossas descobertas, com a pesquisa feita, mostraremos que a questão da cultura pode direcionar as decisões humanas e ainda identificar possíveis problemas que o turismo enquanto ideologia de cultura (mesmo que construída) pode alienar os trabalhadores em relação ao tipo de exploração que essa indústria do turismo pode fazer com eles, deste modo observaremos a história de vida dos trabalhadores e suas constituições culturais alienativas, enquanto operários da indústria ideológica do turismo em Canoa Quebrada. Se tais fatos se evidenciarem nas respostas chamaremos a atenção dos leitores  que o turismo da forma que o turismo é enaltecido, naquela localidade, nos anúncios dos meios de comunicação em massa tem também seu lado maléfico que possivelmente seja diluído com a indústria cultural que se constrói para exploração desse setor econômico.
Objetivo geral:

             Dentro da cultura do turismo e do trabalho que ele gera identificar quais são os benefícios e\ou malefícios que a indústria do turismo proporciona aos nativos da praia de Canoa Quebrada bairro de Aracati-Ceará.
Objetivos específicos:

            Verifica se a cultura do turismo esta reificada dentro da praia de Canoa Quebrada. Analisar se a cultura do turismo influência nas escolhas dos moradores de Canoa Quebrada. Identificar se o trabalhador do turismo em Canoa Quebrada esta alienado em relação a sua força de trabalho.

Metodologia:
            O trabalho foi feito através de entrevista usando um questionário com 15 perguntas relacionadas a atividade profissional ligada ao turismo e a saúde do trabalhador e as condições de vida deste. Utilizamos de recursos fotográficos e gravação de vídeo. Foi realizado no dia 03/10/2012 às 9:30hrs até às 13:00hrs.

Resultados:
            Entrevistamos vinte pessoas que trabalham no setor do turismo na comunidade entre eles vendedores ambulantes, bugreiros e  guia turístico. Em sua maioria 17 não teve críticas a fazer  ao turismo na cidade, pelo contrário a maioria das respostas eram que o turismo era ótimo para cidade para eles. dezenove disse não se sentir explorado em seu trabalho por não existir a figura do patrão e o conceito de exploração desses  dezenove era justamente a figura do patrão exigindo mais esforço do empregado. Apenas 03 vendedores tiveram alguma crítica ao turismo: uma disse que o turismo fazia com que os produtos encarecem os preços de produtos nos supermercados pois a venda de tais tinha um preço que era para turista e os nativos acabavam pagando esse alto preço. Outro ambulante se sentiu explorado em seu trabalho apesar de não ter a figura do patrão, mas por ter que andar o dia todo no sol.  Por ultimo uma vendedora  disse existir um certo controle para poder vender e não tem a liberdade de vender todos artesanatos que produz.

            A maioria os entrevistados tem familiares que trabalham no turismo. Tal fato se evidencia pois na explicação dos entrevistados só há poucas formas de ingresso no mercado de trabalho naquela localidade e a forma mais expressiva é a da indústria do turismo.
            Outro dado que analisamos em nossas pesquisa foi o da saúde do trabalhador e a o maior percentual de entrevistados disse nunca ter sofrido acidente durante o trabalha nem ter doença decorrente dele. Os equipamentos ou roupas de proteção dos trabalhadores em sua maioria se limitava a creme protetor solar, boné ou óculos de sol. Só existe um posto de saúde na praia. Mas o interessante é que a todos responderam que quando precisam de médico não encontram no posto de saúde e têm que se deslocar até a cidade de Aracati-Ceará. Ainda nesse tópico.
            Na área do saneamento básico todos tem água encanada, usam fossa como sistema de descarga de dejetos. A metade tem a rua calçada e sobre a coleta de lixo só duas  pessoas disse que não há coleta.

            A nossa pesquisa permitiu identificar que a tradição cultural de Canoa quebrada, que o turismo, esta bem clara no tempo (há anos) e no espaço(em toda a cidade, no comercio, nos serviços, nos investimentos, nas propagandas da cidade, etc.). Ela esta reificada (coisificada), pois os objetos a venda conotam o turismo (lembrança da cidade, camisas etc.). Também se coisifica porque é uma forma de vida dos trabalhadores do turismo, uma vez que, em sua maioria, passam a maior parte do dia, e isso todos os dias, vendendo ou atendendo aos turistas. A maioria deles já incorporaram esse modo de vida e não querem ter outra profissão, apesar de ser uma cultura “construída” (essa do turismo em Canoa Quebrada) o bairro   é uma sociedade que existe com essa cultura (mas essa cultura do turismo existe em outras sociedades).  Tal sociedade, em questão, tem valores que dão sentido ao seu jeito de ser e na noção de cultura que encontramos como os indivíduos fazem suas escolhas e porque decidem serem desse ou de outro jeito. Ou como afirma Damatta “...Não existe, pois, coletividade humana que não se utilize de uma noção de sociedade ou de cultura para exprimir partes de sua realidade social” (Damatta 1987, 57). A pesquisa permitiu, ainda, constatar que na cultura do turismo - que na cabeça deles é ótima - encontram as razões das escolhas profissionais. Entre os 20 entrevistados, todos mostraram que o turismo foi o fator determinante para sua escolha profissional. Apesar de cada um dar  uma variante de  explicação mais especifica, como por exemplo, fonte de renda, ciclo de amizades ou ver seus pais trabalhando nisso, a grande maioria teve sua escolha norteada pela cultura do turismo. Ou seja, Culturalmente falando, o turismo em Canoa quebrada é de forte influência nas escolhas de vida dos seus trabalhadores, ou ainda, nas palavras de Damatta: “... Mas também utilizamos a moldura cultural para exprimir e englobar condutas racionalizando-as e legitimando-as”(Damatta 1987, 57). Vale notar que apenas um dos entrevistados disse que se tivesse oportunidade de estudos teria outra profissão (advogado), no entanto estava satisfeito com a que exercia como ambulante.


            Com olhar crítico verificamos que existe uma alienação com relação a exploração econômica da mão de obra, poi os entrevistados disseram em sua maioria que só se sentiria explorado se houvesse a figura do patrão. Até mesmo os que produzem algum tipo de artesanato ou produto de uso doméstico como é o caso do óleo de coco de  Fatinha que diz não haver exploração de sua produção. A alienação existe pois o trabalhador não consegue relacionar que seu trabalho dentro da indústria do turismo que gera uma renda que não fica em suas mãos, pois como se verificou a maioria vive com pouca renda de seu trabalho, trabalha durante a maior parte do dia, todos os dias. Seguindo o conceito de mais-valia  de Marx onde o trabalho gera riqueza só que esta riqueza não fica na mão do trabalhador do turismo tão pouco retorna para ele com investimentos, como por exemplo na saúde ou no saneamento básico. Na verdade existe um investimento na praia de Canoa Quebrada só que este é feito na própria indústria do turismo com construção de monumentos que enaltecem o turismo e  nas infra instrutura do comércio e isso só favorecem os grandes empresários e comerciantes do turismo. Pode notar também nos investimentos que fazem nas propagandas criando a ilusão de um lugar perfeito. Em detrimento disso sofre os setores que deveriam ter o minimo de atenção como o da saúde. Em nossa visita ao único estabelecimento de saúde da praia verificamos um prédio com um ambulatório, uma sala de dentista e duas salas de enfermaria nenhum médico de plantão e nenhuma ambulância. Esse quadro do posto de saúde demonstra que apesar de a localidade ter um estabelecimento de saúde, as instalações não são suficientes para atender toda a demanda dos moradores, muito menos as do turistas que a visitam. A ausência de profissionais de saúde é a marca do cenário de saúde pública na afamada praia turística de Canoa Quebrada, pois durante a entrevista todos, sem exceção, alegaram essa deficiência e tal fato se confirmou com nossa visita às instalações.


Conclusão:
            Como pode se observar a indústria do turismo enquanto setor econômico e cultural esta cristalizada  no modo de viver dos nativos da praia de Canoa Quebrada- Aracati/CE. Tem forte influência nas decisões profissionais dos moradores e estes em sua maioria aprovam sem críticas essa cultura. No entanto não conseguem enxergar que esse tipo de exploração econômica só tem um lado que se beneficia que é o do próprio turismo, pois falta investimento em saúde, saneamento básico. Caberia ao poder público, junto com a valorização do turismo, propor políticas públicas que atendesse as necessidades de saúde e saneamento que, pelo que foi constatado durante a pesquisa é escasso e não atende as necessidades de seus moradores.
             Retomando o que foi dito em princípio (na justificativa) a vida de gado que as pessoas levam sendo encurraladas a trabalhar no setor do turismo, na sociedade estudada, as deixa alienadas, pois apesar de não perceberem os benefícios que o turismo não traz a comunidade local, não deixam de festejar a oportunidade de serem explorados. Talvez a melhor solução a se apontar seja a mais difícil e reside em conscientizar aquela sociedade da realidade que os cerca, mas não deixa de ser uma boa orientação a se seguir.


Referencia:
DAMATTA, Roberto.Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. p. 246.
 DIASReinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Pearson , 2007.
 MARX, Karl. O capital. Coleção Os economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
RAMALHO. Zé. Vida de gado.

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