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segunda-feira, 27 de maio de 2013

O fim da Escravidão e o processo de desumanização do negro no Brasil



Autores²: Alex Andrade, Jéssica Rayonara Nascimento, Karolayne de Souza Fernandes, Michael Hudson Dantas, Mora Kissi de Oliveira Nascimento, Priscila Augusta Silva de Carvalho.

Resumo: Esse trabalho tem como objeto de estudo a abolição da escravatura no Brasil, como objetivo um olhar critico para o fim da escravidão no Brasil. O método usado foi uma revisão textual em (DAMATTA, 1987), (LESSA, 2011), (MELLO, 1982), (JÚNIOR, 1987), e pesquisa em obras mais significativas, tais como (CARDOSO, 1962) e (FURTADO, 2009) para fundamentar nosso trabalho. O resultado foi a uma reflexão mais assídua: “Foi de fato, a abolição da Escravidão, à libertação para o negro, ou foi uma forma diferenciada de desumanização?”. Concluímos que houve uma libertação física, no entanto não houve a emancipação política, social e educacional do negro.

Palavras chaves: Abolição. Desumanização. Escravidão. Negro. Trabalho.

Introdução    
            O assunto tratado é a abolição da escravatura no Brasil com um olhar critico pretendendo ver a realidade em que se deparou o negro liberto sem condições mínimas de sobreviver dignamente.  A motivação é apresentar o presente artigo para avaliação da disciplina Formação Econômico, Social e Política do Brasil e para tanto decidimos abordar esse assunto com um ponto de vista diferenciado da forma como ele, geralmente, é tratado. A relevância do tema se torna pertinente, pois ajuda a compreender de modo crítico o processo de abolição do negro no Brasil. O artigo está estruturado assim: Um breve resumo do sistema escravista, os motivos econômicos que levaram ao fim da escravidão e as consequências. Em seguida salientamos a exclusão social e a desumanização que o negro sofreu, e concluímos reafirmando a forma de total exclusão social que este recém-liberto sofreu.
1. O escravismo no Brasil
            O momento em que se situa o escravismo no Brasil é o de terra colonial, onde a monarquia portuguesa tinha o objetivo de explorar a nova terra. Contudo, para explorar a terra, fez uso de mão de obra escrava oriundas dos tráficos negreiros que vieram da África. Afirma Caio Prado Junior (PRADO, 1987) que a metrópole (Portugal) tinha a pretensão de constituir uma colônia baseada em um regime agrário de grandes propriedades, com uma monocultura de exploração utilizando o trabalho escravo. Ou, como ele mesmo descreve a estrutura agrária (o mesmo pode-se dizer da economia escravista mineira) do Brasil colônia: são estes, em ultima análise, os fatores que vão determinar a estrutura agrária do Brasil colônia, os três caracteres apontados: a grande propriedade, monocultura e trabalho escravo, são formas que se combinam, se completam, e se derivam diretamente e como consequência necessária daqueles fatores.
Como vemos, a presença do sistema escravista era imprescindível para atender aos interesses da metrópole, e esse sistema vai perdurar por um bom período de tempo até que em 1888, pela assinatura da lei áurea, pela princesa Isabel, os escravos são libertos.  É evidente que vários fatos - tais como movimentos de revolta, constituição de quilombos, movimentos abolicionistas, intervenção de outros países para o fim do tráfico de escravo, entre outros - que envolvem o desenrolar da história do escravismo no Brasil, no entanto, nossa pretensão é de focar o como se deu esse fim face à necessidade econômica e política que acontecia no mundo de então (a saber, a necessidade de expansão do capitalismo mundial inclusive pelas terras do novo mundo) e seus desdobramentos.
2. Fim do escravismo: humanização ou desumanização do negro?
Conforme já citado houve vários eventos que permearam o processo histórico do escravismo no Brasil, entre eles estão os que cooperaram para o fim do escravismo, no entanto, nossa abordagem, será numa perspectiva econômico-social e nos deteremos a expô-los na construção do nosso texto. Conforme João Manuel Cardoso de Mello os custos da indústria escravista eram superiores aos da indústria capitalista o que tornava inviável a manutenção do escravismo diante dos avanços do capitalismo no mundo. De uma forma mais prática sairia muito mais em conta pagar o salário de um operário do que sustentar um escravo, pois na produção o operário conseguia desenvolver melhor seu trabalho, gerando consequentemente mais lucro para seu patrão, já o escravo não, por que seu sistema de trabalho não estava inserido dentro da lógica capitalista. Cardoso, em sua obra Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional, afirma que:

O sistema escravocrata por condições inerentes a si mesmo, constituía um obstáculo para o desenvolvimento das forças produtivas do modo capitalista de produção. Vemos que a necessidade do fim do escravismo se dava por várias questões, mas as questões de ordem econômica suplantavam as demais (CARDOSO 1962. p 203).

 A produção da indústria capitalista dos países europeus avançava na dimensão de suas unidades, gerando economias de escala cada vez mais significativas, já a produção do sistema escravista estava estagnada pela sua própria inércia. João Manuel Cardoso de Melo (1986) diz que “o sistema escravista era incapaz de suportar a concorrência da indústria capitalista dos países centrais”. (MELLO, 1982, p.)
            Outro ponto a ser levado em consideração de ordem política e econômica foi a abolição do tráfico internacional de escravos promovido pela principal potencia econômica capitalista da época, a Inglaterra, que estava vivenciando o auge da revolução industrial, e necessitava expandir seu mercado, comercializando direto com o Brasil que ainda era colônia de Portugal. Uma das imposições da Inglaterra era a abolição do tráfico de escravos, e isso tornou cada vez mais caro a manutenção desse sistema (escravocrata), pois não havia mais tantos escravos disponíveis para suprir as demandas escravocratas. Outro fator de ordem econômica, posto por João Manuel Cardoso de Mello (1982), era o fato de que a mão de obra escrava não tinha uma divisão técnica do trabalho, dada por sua própria condição:

A escravidão bloqueava tanto uma maior divisão técnica do trabalho, quanto a especialização do escravo, porque era próprio de sua condição que se mantivesse res. A produtividade do trabalhador assalariado, [...] utilização da capacidade produtiva e preços, haveria de ser muito maior... (MELO, 1982, p. 75).

Vemos que fica evidente que a questão econômica para o fim do escravismo teve um imenso peso condicionante para tal.
3. A abolição da escravatura e suas consequências
Como é sabido, em 1888 por intermédio da lei Áurea, é decretado o fim da escravidão no Brasil. Mas, como é sabido também, esse fato é amplamente divulgado como um evento do fim do sofrimento da raça negra no Brasil. De fato não deixa de ser um elemento positivo, entretanto, o fim da escravidão é o início do processo de marginalização e desumanização do negro, pois esse acontecimento foi muito mais prejudicial a esse (negro) do que para o próprio senhor de escravo. Com os escravos libertos surge no cenário Brasileiro uma grande massa de negros livres sem perspectiva nenhuma de futuro; estavam dissociados socialmente e economicamente do resto da população. A lei Áurea proveu o fim da escravidão, mas não o inicio da dignidade e humanização do negro brasileiro.
A grande questão que se levanta é como os negros, agora libertos, não têm os meios de produção, não possuem terras para habitar e sem nenhuma perspectiva, iriam se refazer como seres humanos. Foram lançados ao destino cruel, ao amanha incerto. Observando a realidade social dos recém-libertos, eles não eram nem possuidores dos meios de produção nem tão pouco mão de obra disponível, eram simplesmente negros livres que foram destituídos de sua condição escrava pra uma condição social indefinível para humanos, saíram da realidade escrava para uma realidade que não lhes cabia.
Da Matta (1987) ao citar Marx diz que "os homens fazem a sua própria historia, mas não a fazem como querem; sobre as circunstancias de suas escolhas, e sim sobre aquelas que se defrontam".
Os negros sentiram extrema dificuldade em sobreviver em uma sociedade que estava surgindo, sociedade essa que eles não tinham espaço, pelo fato de nunca terem sido preparados para a emancipação política que passaram a vivenciar. Em outras palavras, os ex-escravos estavam diante de uma condição política que lhe davam o direito a liberdade de seu senhor, no entanto, estavam engendrados a uma realidade social que os desumanizavam e os degradavam, pois, sem acesso ao trabalho, o que na visão marxista, é a condição que o homem precisa para se realizar como indivíduo.
3.1 Exclusão social
De acordo com Marx, a sociedade divide-se em duas classes (exploradora e explorada), no entanto, ao libertarem-se, os negros ficaram marginalizados nessa divisão social, não se encaixavam em nenhuma destas classes, pois ao mesmo tempo em que eles se encontravam livres, encontravam-se segregados de uma sociedade a qual não lhes dava oportunidades de exercer essa liberdade de modo que eles pudessem trabalhar dignamente e viver da forma que lhes condicionassem oportunidade de escolha na nova vida. É fato de que de em toda sua história, não tiveram nenhuma educação ou qualificação profissional. Portanto, podemos entender que não era de interesse daqueles que detinham o poder econômico e político proporcionarem-lhes não só a emancipação política, mas econômica e social. De acordo com Cardoso (1962), os negros foram tão alienados durante o processo de escravidão que ao serem libertos tiveram que passar por um processo de ociosidade social para se reconstruir como indivíduo. Nas palavras do autor:

O processo alienador da sociedade escravocrata havia contaminado de tal forma a consciência e o sentido das ações humanas, que o trabalho aparecia como a qualidade anti-humana por excelência, sendo necessário, por isso, que o homem negro se afirmasse primeiro como ocioso, para sentir-se livre e poder recomeçar todo o caminho da lenta e penosa reconstrução de si na sociedade de classes que começava a formar-se. (CARDOSO, 1962, p. 279).

            Esse estado de classe alienada, ainda escrava, para o negro, mostra quão era insuficiente somente a liberdade, mas também condições sociais, educacionais, e econômicas para poder viver nessa nova realidade que foi lançada.
            A exclusão, na nova lógica que se implantava (a transição para o sistema de produção capitalista), era inevitável para o negro, pois sem nenhum aprimoramento técnico sem nenhuma educação funcional não estavam, em sua maioria, para servir de mão de obra para o capitalismo. Cardoso de Melo diz que: “o escravo enquanto escravo é incapaz de manejar, ‘produtivamente’ técnicas que impliquem no emprego de máquinas” (MELLO, 1986, p.60), o que os torna incapazes de se inserir nos moldes dos modos de produção que se encaminhava a nação.
            A nova condição de livre imposta ao negro o introduzia numa nova realidade de classe social fora do sistema econômico de produção e, sem trabalho, era desumanizado não só pelos anos de exploração que sofreram, mas por não terem as mínimas condições econômicas e sociais para se realizarem.  Sérgio Lessa citando Marx diz que:

Por meio do trabalho que os homens não apenas constroem materialmente a sociedade, como também lançam as bases para que se construam como indivíduos. A partir do trabalho, o ser humano se faz diferente da natureza, se faz um autentico ser social com leis de desenvolvimento histórico completamente distinta das leis que regem os processos naturais. (LESSA, 2011 p. 17).

 Celso Furtado, em seu livro Formação Econômica do Brasil, diz que alguns negros, escravos da região cafeeira, tiveram o privilégio de trabalhar por salários relativamente altos, só que o autor reconhece que o livre não estava preparado para o tipo de trabalho assalariado. Furtado diz que os efeitos dessa tentativa de trabalho assalariado fora antes negativas do que positivas. Em suas palavras ele diz:

O homem formado dentro desse sistema colonial está totalmente desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de riqueza é praticamente estranha. [...] Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação do seu salário acima de suas necessidades [...] determina de imediato a forte preferência pelo ócio. (FURTADO, 2009 p. 212).
               
Como vemos na abordagem de Furtado o negro estava limitado pelas agruras da escravidão que o limitou não só no seu direito de liberdade física, mas também econômica educacional e social, pois mesmo com a oportunidade de trabalho assalariado para alguns não se adaptaram a esse sistema de produção, preferiram o ócio ao trabalho.
 Cardoso (1962) diz que alguns negros tiveram acesso ao trabalho nas mesmas condições do antigo regime (escravista), mas agora com nome de “livre”. Não lhes estavam reservado direito algum, somente a escolha de se submeter às antigas condições.

Com efeito, o nego livre tinha que optar entre continuar trabalhando nas mesmas condições que antes, com status formal de cidadão, ou reagir a tudo que o trabalho desqualificado pela escravidão, significava, passando a viver na ociosidade e no desregramento. Foi essa a alternativa; que os brancos criaram para os negros. (CARDOSO 1962, p.279)
            O autor diz que foi necessário passar pelo estágio de ociosidade para poder superar as dificuldades que encontraram para se moldar profissionalmente e educacionalmente a nova realidade, e isto lhes rendeu a alcunha de que todo negro é ocioso, não gosta do trabalho.
Por outro lado Furtado (2009) diz que: “Na região nordestina as terras de utilização agrícola mais fácil já estavam ocupadas praticamente em sua totalidade á época da abolição. Os escravos liberados que abandonaram os engenhos encontraram grandes dificuldades para sobreviver”. Aqui vemos que os escravos da região nordestina não tiveram a mesma “sorte” que os da região cafeeira, pois foram abandonados rumo ao destino incerto de escolha, abandonados a sua continua desumanização.
Conclusão:
            Como foi observado nas proposições expostas acima, vemos que com um olhar mais critico no processo de abolição a escravatura do Brasil há um desencantamento de todo o vislumbre que se coloca na libertação dos escravos, isso se dá porque era necessário mais do que uma simples libertação física, era imprescindível que o negro recém-liberto tivesse emancipação econômica, emancipação social, e emancipação educacional para o novo mundo que lhes foi descortinado. A falta desses elementos supracitados culminou em uma forma de desumanização diferente à que ele era submetido enquanto escravo. Nesta, enquanto escravo, mesmo de forma precária, ele trabalhava, comia, se vestia etc.. Na outra, foram excluídos totalmente das classes, eram apenas negros.
Referencias:
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e Escravidão No Brasil Meridional: o Negro na Sociedade Escravocrata do Rio Grande do Sul. São Paulo: DEL, 1962.
DAMATTA, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Edição comemorativa: 50 anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
LESSA, Sérgio; TONET, Ivo. Introdução à Filosofia de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011. Disponível em <http://sergiolessa.com/Livros2012/intrfilmarx2ed.pdf> . Acesso em 03 de março de 2013.
MELLO, João Manuel Cardoso de. O Capitalismo Tardio. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
PRADO JÚNIOR, Caio.Formação do Brasil contemporâneo:colônia. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
 

A CONSTITUIÇÃO SOCIAL, ECONÔMICA E CULTURAL DO BRASIL SUL



BASEADO NA OBRA DE DARCI RIBEIRO: O POVO BRASILEIRO
Brasis sulinos
            A característica básica da região sul do Brasil é sua heterogeneidade cultural, isso se dá pelo fato dessa região há alguns séculos atrás ter sido habitada por diversos povos de etnias, culturas e nacionalidades diferentes. No século XVII na região sul não havia nenhuma fronteira oficial estabelecida provocando assim disputas entre as metrópoles portuguesa e espanhola por essa região.
O Brasil sulino surge à civilização através dos jesuítas espanhóis que fazem florescer no atual território gaúcho de missões a principal expressão de sua república cristã-guaranítica. Os jesuítas atuavam como agentes da civilização criando modelos utópicos de reorganização intencional de vida social que efetivamente viabilizaram novas formas de existência humana.  Esse modelo jesuítico buscava assegurar-lhe uma existência própria dentro de uma comunidade que se ocupava fundamentalmente de sua própria subsistência e desenvolvimento. Essas missões tiveram consequências inesperáveis, tais como: uma eficácia que acabou atraindo rapidamente para os núcleos missioneiros milhares de índios, e teve eficácia também econômica na produção para os mercados regionais e externos, permitindo assim que as missões mantivessem um intercâmbio comercial. Com essas missões houve uma concentração de grandes massas indígenas deculturados, uniformizados culturalmente e motivados para o trabalho. O êxito mercantil dessas missões provocou invejas e cobiças locais e da metrópole, provocando a expulsão dos jesuítas. Tudo isso contribuiu para a formação do Brasil sulino, pois criou um depósito de escravos (índios guaranis) exportáveis que constitui os primeiros gaúchos que serviria para mão-de-obra para a exploração mercantil das vacarias desenvolvidas pelos jesuítas. Essa matriz indígena (guarani) é que forjaria a pró-etnia gaúcha que se multiplicando vegetativamente e “guaranizando” outros continentes povoou a campanha e veio a ser a étnica básica das populações sulinas, posteriormente essa matriz se dividiu para atrelar-se às entidades emergentes, como argentinos, uruguaios, paraguaios e brasileiros.
 O fator principal da formação do Brasil sulino foi à coroa portuguesa ter o propósito explícito de levar sua hegemonia até o rio da Prata. Esse propósito buscado inicialmente pelos bandeirantes de conversão de índios em mercadoria escrava que estabeleceu o primeiro circuito mercantil transbrasileiro, depois a instalação da Colônia do Sacramento no rio da Prata tentando assim garantir seu domínio. Como na região sul não havia nenhuma fronteira estabelecida, sendo palco de diversos conflitos territoriais entre as metrópoles que tinha como único objetivo explorar aquela região foi preciso apelar para o uso das armas para poder manter o Brasil sulino atrelado ao brasil. O Brasil se viu diversas vezes envolvidos nas guerras platinas. Em ocasiões por ambições expansionistas próprias, em outras, como por partes que eram de um conjunto de nacionalidades em confronto no processo de autodiferenciação, unificação e fixação de fronteiras. A região sulina foi formada por três matrizes diferentes: gaúchos, matutos (açorianos), e gringos.
Primeira constituição do povo sulino
 Os primeiros gaúchos (índios guaranis) tinham contatos com diversos povos diferentes, fazendo-se com que esses primeiros gaúchos não se identificassem como espanhóis nem como portugueses, do mesmo modo já não se identificavam mais como indígenas, constituindo assim uma nova etnia ainda não inteiramente identificada, “os mestiços”. Estes eram uma mestiçagem de guaranis com espanhóis e portugueses, isto é, uma mistura de índios marginalizados e brancos pobres segregados de suas matrizes. Outra fonte foi o núcleo neoguarani de paraguaios de Assunção, e uma terceira fonte foram à prole dos portugueses instalados na Colônia do Sacramento. Somam-se assim, três povos na formação da matriz gaúcha.
 Décadas depois, com os entendimentos diplomáticos para a fixação da fronteira, processa-se a pacificação progressiva da linde, dando origem ao Uruguai como um vasto território colocado entre os contentores brasileiros e argentinos. Com isso as estâncias brasileiras entraram numa fase de relativa tranquilidade. Consolidada a posse de terras e rebanhos, pacificada a campanha e, depois, cercadas as estâncias com aramados, o novo gaúcho sedentarizado é compelido a assumir seu novo papel de simples peão. Ainda cavaleiro, campeia, garboso, o gado do patrão, com orgulho de ofício e do seu domínio da montaria e do rebanho. Porém, cada vez mais pobre e mal pago, come menos e vive mais maltrapilha. É desse modo que irão forjando uma consciência do novo gaúcho sobre seu destino e fermentando um espírito de rebelião ainda confuso e inconsciente.
A economia da região sul sempre esteve voltada para a valorização do gado, com a exploração do gado selvagem para a exportação do couro e sebo, na região mineira era utilizado gado em pé, para os bois de carro, para cavalos de montaria e para os muares de tração e carga, depois surge a técnica de fabrico do charque. O crescimento das charqueados valoriza o gado e industrializa sua exportação, fazendo do pastoreio cada vez menos uma aventura e cada vez mais um negócio nacional.
Segunda constituição do povo sulino
Os Açores habitantes de um pequeno arquipélago próximo a Portugal imigraram para o Brasil no século XVIII, pelo governo português, tinham como objetivo implantar um núcleo de colonização de ocupação lusitana, e a povoação das terras brasileiras, para protegê-las de possíveis invasões visto que havia vários conflitos externos, a princípio ocupou a extensa área litorânea entre o sul de santa Catarina até o Rio Grande do Sul. Eram a esses povos grandes concedidos vários benefícios como: a disponibilização de terras, de munição, bem como o sustento alimentar durante o primeiro ano, entre outros. No entanto, apesar desses benefícios a colonização açoriana foi um fracasso, pois estes ficavam ilhados em pequenos nichos no litoral, desertos, despreparados para o cultivo da terra, que lhes eram desconhecidas, e sem possuir mercado consumidor para suas pequenas produções. Devido essas condições acabaram misturando-se densamente a cultura indígena, fazendo-se “matutos”, lavando a terra pelo sistema de coivara, plantando e comendo mandioca, milho, feijões e abóboras. Essa junção de culturas foi tão forte que mesmo em seu artesanato atual é difícil distinguir suas peculiaridades açorianas. Os açores fizeram-se matutos, no entanto alguns escaparam a essa caipirização o que contribuíram para algum avanço na agricultura gerando um pequeno desenvolvimento na economia, que se fundamentou em práticas mercantilistas. Sua contribuição à cultura brasileira foi muito pouco devido a esta mistura de culturas, no entanto, puderam-se ter influências regionais, com papel social formando-se o aportuguesamento linguístico e um abrasileiramento cultural.
 O povo açoriano aumentou o que trouxe alguns benefícios, os caipiras formaram uma reserva nacional de mão-de-obra, que não era valorizada na região, devido ás baixas condições para o desenvolvimento, alguns aglomerados desses povos contribuíram para a ampliação do mercado nacional com atividades de pesca e em minas de carvão. Não conseguiram se desenvolver, o que contribuiu para a marginalização de sua cultura, perdendo algumas tradições, festividades.
A terceira constituição do povo sulino
A terceira constituição da região sul é formada por estrangeiros de origem germânica, italiana, polonesa, japonesa, libanesa etc. Embora brasileiros, configuram uma parcela diferenciada da população. O domínio de duas línguas, nível cultural mais alto e alguns hábitos fazem essa diferença.
 A colonização tinha uma função de alienar culturalmente os povos. Os europeus olhavam de modo diferente os negros e mestiços (que era a maior parte da população). O império promoveu a colonização investindo altos recursos que jamais foram oferecidos as grandes massas caipiras brasileiras. Esse empreendimento resultou numa vasta ilha nos estados do sul. A mescla de povos ocasionou uma troca de cultura e técnicas adaptativas. Essa diversidade europeia e asiática tem uma uniformidade social decorrente de suas organizações em pequenas terras e de suas capacidades profissionais na agricultura. Com a cultura de segregação cada grupo se organizou autonomamente. O domínio da língua portuguesa só foi alcançado mais tarde. A primeira geração de colonizadores teve que definir suas atividades produtivas enfrentando difíceis condições. Já as gerações seguintes foram beneficiadas tendo que expandir- se por causa do crescimento que houve.
 A ideia de marginalização foi amplamente explorada pelos países de origem antes e durante a última guerra mundial, estimulando o surgimento de doutrinação nacionalista e racista. Para fazer frente a isso foi necessário uma maciça ação oficial nacionalizadora que compeliu o ensino da língua e recrutaram jovens a servir as forças armadas.
 As diversas áreas colonizadas formaram vilas rurais que encabeçadas por cidades teve uma diversificação na produção e se ajustou às condições do mercado somando atividades industriais de base artesanal às agrícolas, isso fez prosperar a economia regional elevando o padrão de vida. Tornaram-se importantes produtores de vinho, mel, trigo, cevada etc.
 Essa expansão teve um entrave latifundiário e fez surgir uma população marginal chamado “caboclos” da região sul. Estes foram confundidos com os matutos de origem açoriano e com os gaúchos da rancheira fazendo-se uma só camada: os marginais da região sulina. Esses marginais constituíram uma reserva de mão de obra resultando numa baixa nas reivindicações por melhorias e certo conformismo com a degradação de sua condição.
Nos últimos anos surgiu nessa zona um desenvolvimento industrial intensivo (evolução do artesanato familiar) integrando massas marginalizadas. Esse salto se explica pelo acesso que esses colonos tiveram com equipamentos e pessoal qualificado e sua facilidade, dada pela língua, às fontes de informações técnicas. Esse progresso econômico ensejou novas relações humanas e melhor condição de integração cultural. Houve compreensão de sua auto identificação de descendentes de colonos como brasileiros diferenciados em seu modo de participação da vida nacional. Não eram como seus antepassados nem eram a população marginalizada eram apenas brasileiros.
           Movimentos messiânicos
As massas matutas gauchas marginalizadas foram homogenizadas pela pobreza. Destinados a enfrentar a ordem social de forma arcaica de expressão, revestidos de um caráter  messiânico. Era messiânico porque surgia como um reordenação social em curso, através de invasão de terras para instalar o paraíso aqui na terra. Essas ações remontam velhas crenças de religiosidade popular, praticadas desde sempre na região, chamados agora a inspirar novas lideranças para uma guerra santa. Deu-se o aumento da importância dos “monges” que passaram a liderar os conflitos (messiânicos). Os núcleos conflagrados reuniam-se em “quadros santos”. Na revolução do Contestado, eles formaram grupos igualitários baseados no comércio interno, querendo manter um paraíso terrestre. A vida nesses núcleos era alegre, presidido pelo ideal igualitário e pelo forte convívio social. Esses núcleos foram dissolvidos com a ação do exército nacional, em que morreram 3500 pessoas em 3 anos. Outros levantes ameaçaram ocorrer mas foram rapidamente abafados. As lutas populares como Canudos, Cabanagem e  Mucker tinham em comum o fato de todos reivindicarem a posse da terra de onde tiram sua subsistência, além de se mostrarem capazes de criar prosperidade e fartura.
Literatura
                A Literatura do Rio Grande do Sul se refere à literatura sobre a história e a cultura do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Compreende obras escritas tanto por autores gaúchos como também pelos radicados no estado. Na metade do século XIX, em um período de grande efervescência político-social, causado pelos movimentos republicanos e abolicionistas, ocorreu à fundação da Sociedade Pártenon Literário na cidade de Porto Alegre. Tal sociedade reuniu diversos intelectuais rio-grandenses que exploraram os mais variados gêneros literários ao escreverem sobre a cultura e a história de seu estado, sempre mesclando o discurso literário com o político. A partir da década de 1870, ela expressou cada vez mais seu descontentamento com as políticas da Corte Imperial e seu comprometimento com o separatismo. Os nomes mais importantes do Pártenon Literário foram Caldre e Fião, os irmãos Apolinário, Aquiles e Apeles Porto-Alegre, Carlos Von Koseritz, Lobo da Costa, Hilário Ribeiro, Múcio Teixeira e Luciana de Abreu. De fato, Caldre e Fião, presidente da sociedade, foi o autor de A Divina Pastora (1847), o primeiro romance da literatura gaúcha e o segundo da história da Literatura do Brasil – o primeiro é A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. O Pártenon Literário cessou suas atividades literárias por volta de 1885.
            Há quatro poetas simbolistas de renome na literatura gaúcha: Eduardo Guimarães, Alceu Wamosy, Álvaro Moreyra e Felipe D'Oliveira. João Simões Lopes Neto é o principal escritor regionalista dos gaúchos, autor de obras como Contos Gauchescos e Lendas do Sul, que valorizaram a tradição oral peculiar da região da Campanha. Outros regionalistas foram Alcides Maya, Amaro Juvenal e Darcy Azambuja. Mário Quintana, Augusto Meyer e Raul Bopp formam a trindade modernista do Rio Grande do Sul. A poetisa Lila Ripoll está vinculada à segunda geração do modernismo.
            No romance de 30 os principais autores gaúchos foram Érico Veríssimo, Dyonélio Machado  e Cyro Martins. A obra mais importante deste período é, sem dúvida, a trilogia O Tempo e o Vento, de Veríssimo, que resgata duzentos anos da história do Rio Grande do Sul.
            Literatura Gaúcha contemporânea destacam-se na poesia Carlos Nejar, um dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras, Armindo Trevisan e Lara de Lemos. Quanto aos ficcionistas gaúchos, podemos citar diversos autores: Josué Guimarães, Luís Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar,  Lya Luft, José Clemente Pozenato Tabajara Ruas, Luiz Antonio de Assis Brasil, João Gilberto Noll, Caio Fernando Abreu, Charles Kiefer, entre muitos outros. É muito popular na região Sul do Brasil a obra ”O Negrinho do Pastoreio” que é uma lenda afro-cristã. Muito contada no final do século XIX pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. 
Dança
As danças gaúchas são as mais coreográficas danças brasileiras e são marcadas pela influência das culturas espanhola, portuguesa e francesa. As danças gaúchas estão impregnadas do verdadeiro sabor campesino do Sul; são legítimas expressões da alma gauchesca. A dança gaúcha é caracterizada por movimentos e sapateado fortes. Em seus volteios, exige grande esforço dos dançarinos, chegando, em alguns casos, a apresentar-se como um desafio de perícia, agilidade e audácia.
Algumas danças mais comuns são: Chimarrita dança típica de Portugal, foi trazida pelos portugueses para o Brasil durante o século XIX. Eles dançam juntos no passo bem conhecido que é o dois pra lá e dois pra cá. A partir de alguns movimentos, o homem, chamado de peão, e a mulher, que recebe o nome de prenda, podem flexionar levemente os joelhos durante os passos. Pau-de-Fitas, dança que foi trazida pelos alemães que aportaram na região sul do Brasil. Um mastro de aproximadamente três metros é fincado no chão com diversas fitas coloridas atreladas a ele. Os dançarinos devem estar em número par e cada um segura uma fita para girar ao redor do mastro. No decorrer dos passos da dança, vão se formando desenhos com as tranças das fitas.
Música
 O Rio Grande do Sul conta com uma música tradicional típica, que atua como uma das principais formas de expressão de sua cultura artística e desempenha um forte papel nos processos de reprodução, atualização e reinvenção deste mesmo personagem, de contornos inclusive mitológicos, nos próprios limites do Sul, a música gaúcha dita tradicional que se apresenta hoje está calçada em alguns elementos de base que é necessário dizer que as matrizes culturais nas quais se encontram as raízes da música dita típica gaúcha feita atualmente no Estado foram se articulando pouco a pouco foram acrescidas por novas informações trazidas pelos imigrantes e migrantes que se assomaram em seu espaço geográfico ao longo do tempo, e por visitantes nacionais e estrangeiros. Em muitos discos antigos de música gaúcha as canções foram denominadas como “sertanejas”, além de que houvesse a utilização de ritmos comuns a outras regiões como a “rancheira”, a “toada”, o “chote”, o “rasqueado”, etc. Pedro Raimundo, aliás, pode ser apontado como o primeiro grande responsável pela divulgação da canção típica gaúcha em nível nacional, apresentando com muito sucesso o seu clássico “Adeus Mariana” na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A música gaúcha pode-se dizer, em linhas gerais, tem como vértices a forte influência Europeia e a de demais regiões da América Latina, e também elementos advindos das etnias indígena e negra. Assim é que foram identificados, nas raízes da música gaúcha, ritmos e estilos musicais, muitas vezes amalgamados com as danças respectivas, e que estavam relacionados à cultura dos “fandangos”, ou festas dançantes. E como cantilenas, podemos apontar o cará, o amor-feliz, o benzinho-amor, o joão-fernandes, o chico, a queromana, o pagará, o pega-fogo, a retorcida, o feliz-meu-bem, etc.
A música gaúcha, dentro de um processo muito rico, tanto no sentido de resgate das tradições mais ancestrais, como no de mesclar as tradições com os diversos elementos que vão se agregando à vida cultural dos gaúchos.
Culinária
Colonizado por europeus, o Sul, com 577.214 km2, oferece prazeres variados. Da carne bovina aos frutos do mar. Em seus três estados - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul -, há de tudo; para todos os gostos. Churrascos servidos no espeto, pratos à base de frutos do mar, siris, camarões, lagostas, e peixes elaborados ao forno, na brasa, em caldeiradas.
 Há, ainda, a típica cozinha do interior, com destaque para o mocotó de campo, o arroz-de-carreteiro. A roupa velha e o barreado. Com forte presença italiana, é ampla a oferta de massas. Marcante, também, são os traços da colonização alemã. O que permite ao viajante saborear excelentes embutidos.
Impossível pensar no Rio Grande do Sul e não associar o Estado ao churrasco, isso ocorre porque o gado faz parte da vida dos sulistas desde o início da colonização, lá no século XVII. Por conta das longas viagens dos tropeiros, a carne que sobrava das refeições era cortada em mantas e conservada pelo processo de desidratação com sal grosso, dando origem ao charque, alimento perfeito para as necessidades daquela turma. Cozido com arroz, o charque deu origem a um dos pratos mais conhecidos da região, o arroz de carreteiro. Mas a verdade é que a culinária do Sul sofreu uma mistura de influências: dos portugueses, dos espanhóis e dos índios, que foram, inclusive, os responsáveis pela técnica do fogo de chão, que é a base do onipresente churrasco. Nas serras, a mesa do Rio Grande do Sul tem um “quê” alemão e italiano, sobretudo com as mesas fartas, com os grandes cafés coloniais.
Festas
 Entre as mais variadas festas da região sul se destaca: Oktoberfest: Essa festa acontece na cidade turística de Blumenau, em Santa Catarina, e foi inspirada na festa homônima ocorrida em Munique na Alemanha. A primeira edição aconteceu em 1984 e a festa surgiu com o intuito de divulgar as tradições alemãs no estado brasileiro. Conseguiram, pois a festa é a segunda alemã do mundo. O evento ocorre em outubro, com duração de 18 dias e recebe milhares de visitantes todos os anos. Acontecem apresentações musicais, danças e desfile. Festa Nacional da Uva: A primeira festa da uva aconteceu em 1931, na cidade de Caxias do Sul, no Rio grande do Sul. Por produzir a maior parte da produção de uvas do estado, a cidade resolveu fazer uma festa para celebrar a fartura e a produção de vinho. Um fato curioso é que, durante a Segunda Guerra Mundial, a festa foi interrompida por treze anos. Atualmente, o evento conta com a apresentação de diversos carros alegóricos, concursos e comidas típicas. Ocorre também a eleição de soberanas e embaixatrizes da festa da uva. Marejada :é uma festa ocorrida na cidade de Itajaí, em Santa Catarina. Esse evento abriga apresentações que lembram o mar. Isso interfere na culinária, nas exposições e apresentações ocorridas durante a festa que teve sua primeira edição em 1987. Festival de Cinema de Gramado: Esse festival foi criado a partir da ocorrência de uma Mostra de Cinema. A primeira edição ocorreu em 1973 e participa no incentivo ao cinema brasileiro. Os atores e produções premiados no evento recebem o Kikito de ouro, que se trata de uma estatueta que significa o deus do bom humor. Festa de Nossa Senhora dos Navegantes: Essa festa religiosa ocorre em Santa Catarina todos os anos. A imagem de Nossa Senhora é levada por embarcações em uma procissão pelo mar.

Referência:
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 
KERDNA, Produção editorial LTDA. Regiãosul. Disponível em <http://regiao-sul.info/mos/view/Cultura_e_Folclore/ > Acesso em 29 de jan.2012.